Expectativa da inflação: decifra-me ou te devoro
No quadro atual no Brasil de juros reais nos mais altos patamares do mundo o assunto tem uma importância ainda maior e justifica toda forma de discussão.
Aspecto fundamental de saída é reconhecer que o sistema financeiro brasileiro se tornou benchmarking global pela combinação virtuosa de um setor moderno, inovador e dos mais desenvolvidos tecnologicamente e um banco central independente e com gestões com inegável competência. Aí está o Pix com seu marcante crescimento, penetração e constante evolução para avalizar essa afirmação. De outro lado, como sempre lembram os presidentes do Banco Central, eles estão contratados com a missão de colocar a inflação dentro das metas estabelecidas. E para isso um de seus principais instrumentos de ação é a taxa de juros. Na perspectiva atual de desemprego nos mais baixos níveis históricos, combinado com expectativa elevada de inflação para 2025, 2026 e 2027 nada mais restaria do que usar as altas taxas de juros para domar a fera da inflação. Mas alguns aspectos não podem ser ignorados. Os dados atuais de desemprego merecem muita cautela. Pela metodologia de apuração do índice de desemprego, o que é medido é o percentual daqueles que não estão procurando emprego. E isso gera distorções no quadro atual. Os que poderiam trabalhar das 20,8 milhões de famílias atendidas pela Bolsa Família não estão procurando emprego. E nem poderiam, pois se contratados formalmente perdem o benefício. Isso contribui para que 12 estados brasileiros tenham mais atendidos pelo Bolsa Família do que empregados com carteira assinada, além de um aumento da informalidade na economia como um todo. Não pode trabalhar registrado formal, mas pode fazer bicos para complementar a renda. Da mesma forma que os quase 15 milhões de MEIs, os microempreendedores individuais que também estão atuando dentro da lógica da transformação estrutural de emprego no mundo e não estão procurando emprego. É real que existe um inegável quadro de carência de mão de obra em todo o país, em especial em atividades em que o home office é inviável e os eventuais trabalhos de fim de semana são um problema a mais. E isso acontece em especial com os setores de comércio, varejo e hospitalidade. Historicamente o dado básico de expectativa de inflação futura é a mediana das projeções de empresas do setor financeiro capturada semanalmente pelo Banco Central e um dos elementos críticos na decisão das taxas de juros. A partir do final de 2023 e como parte do processo de evolução dessas projeções, o Banco Central começou a capturar as expectativas das empresas dos segmentos da economia real através da pesquisa Firmus, ainda em fase piloto. Desde então teriam sido feitas seis coletas com as primeiras delas reunindo perto de 80 empresas. E neste ano, próximo de 150. É fundamental a evolução, amadurecimento e mais ampla divulgação do piloto da pesquisa Firmus como elemento de conscientização das empresas. E como contraponto – se verdadeiro – das projeções da inflação pelo setor financeiro. Especialmente num cenário em que a Nação, a sociedade, os negócios, o emprego, os investimentos, a renda e a confiança dos empresários e consumidores dependem dessa visão mais apurada por suas consequências nas decisões das taxas de juros. Por seu impacto crítico na definição das taxas de juros, o maior conhecimento, discussão, avaliação e precisão dessas projeções tornaram-se fator fundamental e deveriam ser tratados pelas empresas, entidades e instituições envolvidas com um nível de prioridade e rigor muito superior ao que hoje acontece. E merece seu acompanhamento e consideração feitos de forma ainda muito mais cuidadosa. Fonte: https://mercadoeconsumo.com.br